topbella

domingo, 8 de janeiro de 2012

Portugal tinha de ficar para trás

Após um final de 2010 caótico e um início de 2011 ainda pior. Sentia-me digamos que não um aborto da Natureza pois pelos vistos até ela se recusava a isso, (e até as minhas tentativas de suicídio não passavam disso: tentativas) mas um autêntico e puro falhanço da dita que mais podia eu fazer? Resignei-me "Se nunca vou gostar de viver, então pelo menos tenho de parar de querer morrer!" Aceitei e procurei ajuda, tentei terminar o meu curso e por uma série de burocracias e parvoíces típicas neste país que é uma autêntica República das Bananas, por uma única disciplina, o pedido foi me recusado, e eis me aqui, mais um ano sem nem perspectivas ou sonhos e a recusar-me a aceitar o diagnóstico de Borderline tipo impulsivo (ainda sem conseguir engolir o rótulo) sem pais, sem uma família presente, com ataques de pânico diários, um caco com pouco mais de 50kg completamente perdida no mundo, nem forças tinha para fazer comida e nem tinha quem ma fizesse. Enquanto tive internada não houve problemas o problema foi quando me deram alta, eu não sabia tomar conta de mim.

Decidi que se me queriam pender naquela faculdade por mais um ano por algum motivo bom tinha de ser. Inscrevi me em aulas de representação, fiz os castings, ia morrendo - não tinha pedalada para aquilo, no terceiro dia de manhã chorei por duas horas - não conseguia mexer as pernas com as dores musculares. Uma semana depois telefonaram-me, eu tinha sido seleccionada. Foi dos momentos mais emocionantes da minha vida, eu prestava para alguma coisa, eu era boa em alguma coisa, entre tantas pessoas, eu era uma das seleccionadas. UAU!!! Fazia parte de algo!!!

Nas primeiras 2 semanas engordei 4kg só em massa muscular mas a minha roupa toda caía-me, aliás até as minhas cuecas me caiam. Ganhei também uma lesão num pulso mas ignorei.
Em Janeiro percebi que tinha uma lesão no outro pulso, obviamente por o esforçar demais para não esforçar o outro, e estava também com princípios de anemia.
As aulas de representação acabaram, eu já não fazia parte, quando estás doente, sais.

Não podia ser, aquele ano tinha de significar algo, eu não podia desistir depois de tudo.
Inscrevi-me em aulas de escrita criativa e decidi continuar os meus estudos de alemão, afinal era por causa das aulas de representação que não tinha seguido estes duas, escrita e os estudos em alemão.
Na Primavera já tinha decidido que me ia mudar para Berlim e tornar-me fluente em alemão, mais uma vez num mês percebi que nunca ia conseguir ter dinheiro para realizar isso. FODASSE!!!! Não ia desistir, outra vez? Precisava de melhorar o meu alemão para seguir os estudos na área que eu queria mas precisava também de dinheiro, com 27 anos os meus Pais a ajudarem-me deixa de ter sentido.
Viena de Áustria, Berlim, Zurique só tinha essas hipóteses e só me mudaria para uma dessas cidades. E mudei!

Foi terrível, uma viagem pelo inferno, sim o inferno é aqui, vi a minha balança marcar 46kg e chorei com medo de morrer (IMC= 15,2 aliás foi mais assustador ainda pois a máquina mediu me mal e deu um IMC de 14,2), parece ridículo, mas uma pessoa que se tenta matar quer morrer nos seus próprios termos, acreditem que quando está a morrer sem querer tem medo como qualquer outro Ser."

Passei estes dois últimos anos a tentar endireitar a minha vida e a minha saúde mas ao mesmo tempo a dar cabo dela e quando parecia que até queria viver a morte vinha me buscar.
Quando finalmente parecia que havia conquistado algo sólido a que me podia agarrar algo vinha e mo tirava.

Então, um dia eu disse para mim mesma "Ei, Exah, tu podes ter tudo, tu mereces ter tudo e não há nada de errado em ser feliz!" nesse dia tudo mudou :) porque até aí eu acreditava mesmo que eu não merecia ser feliz, que isso era uma coisa só para os outros a mim cabia a tortura.

É verdade que às vezes eu ainda penso que mereço ser torturada mas agora eu também sei que a felicidade é algo que me pertence e eu não abro mão dela.

Foi bom ter deixado Portugal para trás e hoje eu percebo que sou o que muitos chamam "doente" porque não tive escolha e agora compreendo o que querem dizer quando dizem que o ambiente em que crescemos contribui muito para o tipo de pessoa em que nos tornamos mas isso é uma história que eu vou contar noutra altura.

1 comentários:

Anónimo disse...

tens toda a razão no que escreveste.
E já li o teu post de manhã, mas agora posso dizer pareces muito feliz com a tua nova vida, com contrariedades e sem. MAs ainda assim, feliz.

E identifico-me contigo nisso de "merecer ser torturada" porque só os outros merecem ser felizes. É ridiculo, mas a verdade é que acontece.

Já viste? Num pais diferente, elegante, com um namorado. Daqui a bocado casas-te, tens filhos e podes ir apresentá-los aos avós :)

Admiro a tua coragem. Um beijinho *

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